A vida fala se há um coração que escuta
Aprendamos a escutar e deixemos a vida falar!
10 • MAI • 2023

Vivemos hoje em um mundo com muita tecnologia e meios de comunicação fantásticos pela agilidade com que as coisas correm e são comunicadas. Podemos nos relacionar com muitas pessoas ao mesmo tempo, basta postar nos grupos de WhatsApp, no face, ou Instagram e logo o que dizemos chega aos destinatários e podemos ter milhares de “seguidores”. Tudo isso é conquista da inteligência humana que aplicada, desenvolve tecnologias cada vez mais refinadas e cambiantes.
Há um “porém” que precisa ser levado em conta. De nada adianta tanta tecnologia se elas apenas levam “mensagens” desprovidas do eco profundo do coração. É preciso ouvir a voz da vida que pede espaço e atenção, que raramente passa pelos zaps ou faces. Uma dor quando é compartilhada, se não encontra no coração do outro a compaixão, ela fica só com quem a sofre.
Quase diariamente escuto pessoas que buscam ouvidos atentos e coração aberto para acolher seus sofrimentos, sem julgamentos prévios, e, sem preconceitos. Quando a dor física ou emocional é compartilhada com alguém que escuta com compaixão, a pessoa sente-se aliviada e em condições de suportar com mais coragem os próprios sofrimentos muitas vezes difíceis de resolver. Na verdade, a maioria das pessoas não espera que se resolva seus problemas, espera apenas, ser compreendida, aceita, e ter a liberdade de manifestar o que está machucando seu coração ou sua vida. Quem escuta não precisa ter a solução para os problemas do outro, mesmo porque quem os tem é que é o protagonista da própria solução. Ser compassivo é ter um coração que hospeda o sofrimento alheio por algum tempo, fazendo-o seu também. Em outras palavras, é preciso deixar-se sacudir pelo sofrimento do outro para despertar o sentimento de solidariedade e através dele aguçar o desejo de estar próximo, sem invadir a intimidade do outro e nem o violentar com consolações abstratas desfocadas da origem do sofrimento.
A vida fala se há um coração que escuta! Para treinar o coração para isso é preciso introspecção e exercitar-se em separar problemas pessoais daqueles dos outros. Antes de escutar os problemas dos outros é preciso educar-se para escutar os seus. Exercitar-se na escuta dos próprios “gemidos” e sussurros que a vida tem escondidos nos seus “porões”. De lá vem o pedido que seja dado a ela uma esperança que vá além daquilo que a aflige no momento. Todos, independentemente de crença ou condição social, somos depositários de tal desejo. Se não aprendemos a nos escutar, teremos muita dificuldade de escutar alguém que busca reencontrar-se com suas esperanças.
Nesse quesito não podemos confiar que a solução esteja no manejo das mídias sociais. Podemos ser especialistas nelas, mas podemos continuar longe do coração das pessoas. A sensibilidade compassiva para a escuta passa pelo coração compassivo. Sem ele, sobram bons conselhos, julgamentos precipitados, absolvições ou condenações desajuizadas.
A vida fala se há um coração que escuta! Aprendamos a escutar e deixemos a vida falar! Que possa falar de seus lamentos e sofrimentos; que possa revigorar sua esperança por vezes sufocada; que possa encontrar sentido para ela que estava sem futuro, mergulhada em seus sofrimentos, como que, morta sem sepultura, perambulando como sonambula que não tem consciência do que faz e nem para onde vai. Escutemos nos ecos das falas que relatam as angústias sofridas por alguém que precisa ser escutado por um coração sensibilizado pela compaixão. A vida fala quando encontra um coração que escuta com atenção o que ela diz!
Pe. Deolino Baldissera, sds