Gestos Missionários de Maria

A experiência de Maria pode ser um convite a todos nós para sermos mais ousados e profundos em nossas convicções e ações

10.Maio.2023
 

As ações de Maria, ao compreender o chamado de Deus e assumir com amor a sua missão, mostram-na como um modelo de Vida e Missão para todos nós. Podemos olhar para os escritos bíblicos sobre Maria e perceber o Plano de Deus que sempre existiu na história humana. Maria resgata a história do povo caminhante no deserto, ao mesmo tempo que anuncia a prática salvadora de seu Filho.

“Nesses dias, Maria partiu apressadamente para a região montanhosa, a uma cidade de Judá. Entrou na casa de Zacarias e saudou Isabel. Quando Isabel ouviu a saudação de Maria, o bebê pulou de alegria em seu ventre e Isabel ficou plena do Espírito Santo” (Lc 1, 39-41). Destacam-se neste texto alguns gestos ou movimentos, especialmente de Maria, que revelam a sua compreensão dos planos de Deus: Maria partiu a caminho, às pressas; entrou na casa de Zacarias e saudou Isabel; o menino pulou de alegria no seio de Isabel; Isabel ficou plena do Espírito Santo. O texto continua dizendo que Maria ficou com Isabel e depois voltou à sua casa.

O Bem-Aventurado Francisco Jordan também nos traz alguns gestos de Maria quando nos diz: “Certa vez sonhei que eu estava fugindo de uma multidão de pessoas que me perseguiam, quando me apareceu Maria, com o menino Jesus nos braços, envolta em grande esplendor. Ela me lançou um olhar amigo (sorrindo com ternura) ...”(DE I 121,1). Encontramos em Maria aquela que vem iluminar a missão de quem vive como caminhante em busca de vida plena, como aquele povo que caminha pelo deserto, a fim de tomar posse da terra prometida.

O livro do Êxodo descreve a libertação do povo eleito por meio de Moisés como líder escolhido por Deus, que os guiou pelo Mar Vermelho até o Monte Sinai para firmarem uma Aliança e estabelecerem uma relação especial entre Deus e o povo

Nas recomendações dadas por Deus a Moisés na celebração da Páscoa, encontramos que a libertação exige prontidão e pressa. “comerão a carne assada ao fogo e acompanhada de pão sem fermento e ervas amargas... como se estivessem preparados para caminhar, de sandálias nos pés e cajado na mão. E comerão às pressas, porque é a Páscoa de Javé” (Ex. 12, 8.11).

Maria é escolhida e chamada por este mesmo Deus. Sentiu-se atraída e influenciada pelo Deus que mostra que a libertação é urgente. Por isso, ela se levanta e vai apressadamente pelas montanhas à casa de Zacarias e Isabel. Maria fica desinstalada e comprometida com aquilo que ouviu e acreditou. Ela entende que não pode concentrar a sua vida na tarefa da maternidade biológica, nem ficar a contemplar seu Filho ou o próprio Deus. Sai de si mesma para ir aos outros, a fim de tornar possível a real presença de Deus no meio das pessoas. Por isso, vai até Isabel e leva consigo, no seu ventre, o evangelho vivo. Grávida do Messias é a primeira portadora do Evangelho dentro de si. E vai encontrar-se com aquela estéril que concebeu mesmo na velhice, porque está em busca de mais sinais de Deus. A gravidez de Isabel é um sinal divino, e Maria vai contemplá-lo.

Maria vai até Isabel movida pelo desejo de aprofundar o conhecimento da revelação que havia recebido, para confirmar a sua fé. Sua viagem à Judeia é um símbolo do caminho de fé que precisa ser aprofundado. Uma fé que se transforma em serviço, que se faz encontro.

Ao entrar na casa de Zacarias e saudar Isabel, o seu menino salta de alegria no ventre. Acontece um movimento interior, sinal de uma alegria partilhada. O Evangelho vivenciado, levado em visita, provoca movimentos naquele que futuramente vai ser um profeta, um precursor, um batizador, um novo evangelizador.

Saudar e entrar na casa é também um mandato de Jesus àqueles que são enviados em missão. Quando Jesus “escolheu outros setenta e dois, e os enviou à sua frente, dois a dois, a toda a cidade e lugar aonde Ele devia ir. ... não levem bolsa, nem sacola, nem sandálias, e não se demorem para cumprimentar ninguém pelo caminho. Em qualquer casa onde entrarem, digam primeiro 'A paz esteja nesta casa'... Fiquem nessa casa...” (Lc 10, 1-7).

Enfim, esta experiência de Maria pode ser um convite a todos nós para sermos mais ousados e profundos em nossas convicções e ações, de nos desinstalarmos sem medo, de irmos às pressas para a missão, de enfrentar os desertos e montanhas. De nos deixarmos encher do Espírito Santo e servir a Igreja e o mundo movidos interiormente com alma e coração.

Maria ficou com Isabel cerca de três meses, e então voltou para casa” (Lc 1, 56). E quando nós, Salvatorianos, voltarmos para nossa casa – depois do trabalho, da pastoral, da visita, da missa, do banco, da reunião ou até mesmo da vida – voltaremos felizes porque conseguimos viver a nossa missão com ternura e convicção.


Pe. Cesar barros, sds

Vice-superior-provincial, conselheiro-provincial e coordenador da Comissão Provincial de Formação Permanente